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domingo, 2 de setembro de 2012

O Amanhecer das Princesas na Cachoeira do Jaguar - III






Capítulo III



                   Salve Deus!
                   Meu filho Jaguar:

                   Não estamos preocupados com os velhos documentos das velhas escrituras, porém estamos sim, desejosos de saber onde os nossos antepassados encontraram tanta força e tanta coragem para chegar até aqui. Sim meus filhos, o Missionário tem, graças a Deus, a sua energia e toda a harmonia nos Três Reinos de sua Natureza. Muitas vezes contando, até pensamos ser irreal o que nos dizem sobre os escravos e seus Missionários.
                   Vejam filhos, estavam em festa, quando alguém anunciou que os Ferreiras já haviam cercado o Conga e queriam Jurema a todo custo. Pai Zé Pedro, mais evoluído do que Pai João, foi tentando segurar o povo dentro do Congá e qual não foi sua surpresa, os crioulos novatos já haviam saído de dentro de casa e como loucos açoitavam os Ferreiras, fazendo-se ouvir pragas, ameaças e gemidos! O Feitor que estava do lado dos Ferreiras, sentindo que estava perdendo gritou:
                   - Sou o Feitor desta Fazenda. Estes Nagôs imundos estão me assassinando. Socorro!
                   Só se ouvia o urro do Feitor, pois na escuridão daquela noite, fora atingido na coluna ficando inerte no chão, gritando como um louco. Pai Zé Pedro foi até o terreiro onde estava a briga e logo viu que o Feitor estava aleijado para sempre.
                   - Oh meu Deus! (gritou Pai Zé Pedro) Como poderemos assumir tal dívida com este pobre irmão? Nisto, alguém que ouvia gritou:
                   - Eu acho muito bom que ele nunca mais caminhe, para não chicotear os outros.
                   - Meu Deus, meu Deus! (dizia Pai Zé Pedro andando de um lado para outro) Oh meu Deus! Este pobre homem que não vai nunca mais andar... Caminhando, deparou com um outro triste quadro. Efigênia, uma jovem negra estava ali também com o crânio aberto de pancadas. Era filha de Júlia, uma paralítica. Zé Pedro não resistiu e foi buscar o seu Sinhozinho. Sim, nenhum dos Ferreira havia morrido e quis a vontade de Deus, nem mesmo ferido. Foi então que um dos quarenta que ainda não havia se manifestado, deu um urro e se manifestou dizendo: - Salve Deus!
                   O sol já começava a esquentar seus raios, então o Nagô Pai Jerônimo disse:
                   - Levanta acampamento, leva Jurema e Juremá. Escolhe o teu povo e segue rumo à Cachoeira do Jaguar, que desemboca nas águas grandes do mar. Nós, os Nagôs, ficamos. Vamos buscar a desditosa mãe destas gêmeas (disse apontando para Jurema e Juremá).
                   - Não! Eu não permitirei (gritou Pai Zé Pedro).
                  - Como? (disse Pai Jerônimo). Como se atreve a duvidar de teu irmão? Vão embora que eu a levo. Se demorarem terão mais mortes. Vamos, vamos logo. E desincorporou. Salve Deus!
                Pai Zé Pedro e Pai João não esperaram mais. Não se sabe como, juntaram suas coisas ajudados pelo Sinhozinho e partiram dali. Só no caminho notaram que não faltava ninguém e, inclusive o Feitor lá estava, numa cama de varas. O Sinhozinho e a Sinhazinha despediram-se com amor. Quando já iam longe ouviu-se um forte estampido. Era um tiro de cravinote.
            Os negros do terreiro, que já estavam de volta e o Sinhozinho com sua família, com a ajuda dos escravos que ficaram, enterraram os mortos e seguiram para a cidade onde moravam seus pais. Enquanto as crioulas contavam 108, faltando Jerônimo que ninguém sabia do paradeiro. Já era noite quando chegaram à Cachoeira do Jaguar. A Lua Cheia clareava as matas e o mar, as palmeiras balançando suas folhas como uma prece. Pai Zé Pedro sentando em uma pedra descortinava todo o quadro por onde teria que passar com aquela gente.
                   Pai João chegou e os dois começaram a fazer os seus projetos.
                   - Sim, (diziam) tudo pela condenação da matéria. A Terra... a Terra, (disse Pai João) tão lindo o mar, no entanto a Terra é o que nos pertence, por ser a parte sólida deste Planeta. Porém, o que me conforta é que as Forças Cósmicas continuam em atividade, porque neste Universo não há inércia, tudo se movimenta em nosso favor pela Bênção de Deus. A sua atividade é essencialmente produtora desta nossa matéria orgânica e inorgânica, logo nos dará forças, graças a Deus!
                   Pai Zé Pedro que só ouvia, disse sorrindo:
                  - Onde aprendeste tanto? Isto não são palavras de Nagô!
                  - Estou consolando a mim mesmo, Pedro.
            - Porquê não pede ao Mestre Agripino? Ele é que me consola (Foi quando os dois começaram a receber energia).
                   - Sim Zé Pedro, a atividade do homem é essencialmente produtora e as forças essencialmente ativas. Como já disse, cria na matéria orgânica este arsenal de forças, portanto temos que organizar um ritual, uma jornada, vestimentas que mudem a sintonia dos crioulos.
                   - Sim Zé Pedro, vamos erguer esta arma para o Céu.
                   - Sim João, é realmente um arsenal. Oh meu Deus!
                   E olhando a paisagem do lugar disseram:
             - Faremos uma jornada em frente à Cachoeira, enfeitaremos as crioulas e faremos lindas Princesas dos Castelos Encantados que já ouvi contar.
                   - E eu que pensei que você meu irmão, era um simples escravo!
                   - Sim (disse Pai João), tenho Agripino que vem nos meus sonhos e me conta tudo.
                   - Eu também tenho um Índio que me falava quando eu ia entrar no chicote do Feitor. Riram, riram muito, de repente lembram do Feitor.
                   - Meu Deus! O que vamos fazer com este pobre homem? De repente ouviram um grito. Era Jerônimo gritando, como se estivesse perseguido.
                   - Oh meu Deus! A nossa vida não tem fim. E os dois continuaram a sorrir.
                   - Sim, e o ritual? (perguntou um).
                   - Faremos! (disse o outro) Precisamos de energia para obter as Curas Desobsessivas. Salve Deus! Faremos tudo que Deus nos aprouver.
                   Os gritos continuavam e todos já vinham ao encontro dos dois.
                   Salve Deus! Meu filho Jaguar. Domingo vindouro lhe darei a continuação.

                   Com carinho,
                   A Mãe em Cristo,
Tia Neiva



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