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domingo, 23 de setembro de 2012

O Amanhecer das Princesas na Cachoeira do Jaguar - VI




Capítulo VI


                   Salve Deus!
                   Meu filho Jaguar!

                   As trevas da noite nada significam para o Espírito, pois este vê através do seu resplendor.
                   Sim meu filho, declaro com toda confiança, que não está longe o dia em que a ciência irá se colocar diante desta realidade que é a reencarnação.
                   Ninguém poderá impedir o progresso. O mundo de hoje está brincando com fogo. O tempo no espaço não se registra. Não se sabe porém os caminhos físicos. No centro nervoso da Terra tudo é lento, tudo vibra para formar a harmonia no centro eterno do homem. Seus rápidos contatos do etéreo-magnético é o bem que lhes dá força. O homem mesmo na sua inconsciência, confirma o seu penhor no eterno e junto aos seus velhos sábios retorna ao seu Sol Interior.
                   Sim meu filho, breves dias irão chegar em que o Homem Espiritualizado será sentido pelo “PROFANO”, como uma música literária da mais alta sinfonia.
                   Sim meu filho, segundo as leis e forças que governam todas as coisas que Deus criou, o homem na totalidade, sempre procura empregar sua força mais para impedir o desenvolvimento da Terra. Vê-se assim, como a se punir pelas suas próprias leis. Leis, sempre para punir outros e não sabem se desviar e continuar a punir.
                   Sim meu filho, não é fácil abandonar a multidão, fixar-se em si para buscar a verdade. E quando conseguimos encontrá-la, é mais difícil ainda permanecer com ela. Permanecer com a Verdade quando a encontramos.
                   Sim meu filho, com este Espírito de lealdade vamos encontrar o nosso Povo na Cachoeira do Jaguar. Foi tudo muito bem aquele primeiro dia. Curas, muitas curas que se espalharam por toda parte. De longe se viam luzes naquela Cachoeira. Nossos Missionários estavam unidos pelos compromissos Cármicos.
                   Pai João amanheceu doente. Seis horas da manhã e o céu não clareava, fazendo os pensamentos se encontrarem. Eufrásio entoava um “bendito” da Igreja Católica. Jurema juntou a roupa e desceu com uma enorme trouxa para a fonte, e com ela Janaína, Jandaia e Janara. Alguns Nagôs já voltavam das caçadas e outros seguiam para as roças. As Sinhás preparavam a feijoada e outras ainda reavivavam o fogo da célebre fogueira.
                   Pai João sentia a tristeza daquela gente e sua mente começou a voltar. Foi quando Pai Zé Pedro chegou fazendo algumas premonições. Sim! Pai Zé Pedro previa alguma dor devido também ao procedimento daquela gente.
                   Pai Zé Pedro estava triste porque Pai João já havia contado uma certa comunicação sua com Vô Agripino, que segundo os fenômenos habituais, a desarmonia que há horas estava se dando no grupo, era forçada pelas vibrações dos familiares de Janaína. Eles acabariam descobrindo o seu paradeiro. Evidente, seria uma guerra. Perder Janaína seria um terrível descontrole para Jurema. Seus pensamentos não chegaram a se concretizar.
                   Da entrada da aldeia três cavaleiros gritavam: - Negros! Queremos paz, porém, nos entreguem a Sinhazinha Janaína, porque o Senhor seu pai pede a cabeça de todos vocês que roubaram sua filha.
                   - Ela não se encontra aqui (disse decidida Jurema).
                   Janaína, que estava de cócoras, saiu correndo e entrou na cabana de Eufrásio, que tinha um Cravinote na sua cabeceira para se defender de bichos (onças, lobos, etc). Vendo Janaína tremendo de medo, segurou o Cravinote e ficou ali ‘a espreita do que desse e viesse.
                   Ah! Foi horrível! Os homens desceram dos cavalos e foram direto ‘a cabana de Eufrásio. Este, fazendo um esforço acima de suas condições físicas, vendo o homem quase pegando Janaína, segurou a arma e atirou. Dois ficaram caídos e o outro foi embora pela mata adentro.
                   Pai João mandou que desarreassem os cavalos e os juntasse à tropa.
                   Todos correram para a cabana de Eufrásio que só sabia dizer: - Oh! Pai João, pelo amor de Deus, jamais pude pensar em tão desesperado gesto. Sim, Pai Zé Pedro! (Eufrásio continuava a falar) Eu não podia deixar que eles pusessem a mão nesta criaturinha...
                   Nisto um urro. Reviraram o homem que estava de bruços com a boca no chão, ele ainda estava vivo, porém, o outro estava morto. Foi horrível. Ninguém sabia como proceder. Mas, a verdade não se pode esconder: Estava um homem morto, e o outro ninguém sabia o seu estado de saúde. Somente quando o dia clareou é que foram dar conta da tragédia.
                   Eufrásio já estava só novamente.
                   Um grande grito se fez ouvir, era Eufrásio; estava sentado na cama.
                   - Sim! Pai João, Deus se compadeceu de mim, estou sentado. Oh! Pai Zé Pedro. Todos viraram-se para Eufrásio, ficando a dor da tragédia mais amena.
                   Maria Conga não parava, enquanto todos sofriam em seu pranto emocional, ela junto à Vovó Sabina e também alguns Nagôs, já haviam cuidado do morto e do ferido, e até já sabiam que o morto se chamava Crésio e o doente Amâncio e que inclusive, estavam por conta própria, ninguém os havia mandado ali. Eram os velhos reajustes da noite fatal na Senzala.
                   - Oh! Meu Deus! (gritavam todos) Eufrásio vai andar... entre lágrimas, gritos e emoções, Eufrásio dava alguns passos pelas mãos de muitas pessoas eufóricas que chamavam aquele fenômeno de milagre.
                   Pai Zé Pedro estava em conflito e foi atrás de Pai João.
                   - Como pode? Matou e ficou curado! Como pode? João, um fenômeno deste?
                   - Cala-te Zé Pedro! Deixe de fazer julgamento. Estes três homens não eram mandados do pai de Janaína, e sim estavam com má intenção na pobrezinha desta virgem. Olha Zé Pedro, já estamos aqui há mais de cinco anos! Não está lembrado que o Sinhozinho Eric vendeu tudo que tinha e foi embora pensando que sua filha havia morrido afogada? Houve até uma lenda que Janaína aparecia cantando por cima das águas nas noites de lua cheia? De um ano para cá, porém, alguém começou a desconfiar que realmente ela estava aqui. Confiança Zé Pedro! Nas coisas de Deus! Estamos em maremoto, porém, para um nada. É confuso tudo isto, certo?
                   - Oh! João, graças a Deus! Não sabes o bem que me fizeste.
                   Pai João mandou um recado para o Sinhozinho de Pai Zé Pedro e este arrumou toda a situação ilegal, inclusive junto ao pequeno arraial de Abóboras.
                   Eufrásio realmente ficou bom. Então tudo virou. Eufrásio queria procurar a família, os seus e, tão impaciente estava que já se aborrecia por qualquer coisa e por fim se apaixonou pela meiga Iracema. Então, em tudo colocava a amargura. Não parecia mais aquele Eufrásio cheio de cuidados.
                   Certa noite, a lua estava cheia, ninguém se preocupava com a fogueira. Pai Zé Pedro e Pai João estavam fora, mais para longe da aldeia e começaram a fazer as reparações.
                   - Eufrásio (comentavam), como uma criatura podia modificar em tantos aspectos, em tão vil procedimento?
                   - É possível João, alguém regredir tão depressa?
                   - Sim Zé Pedro, naquela noite trágica, muita experiência Deus nos deu à luz do saber. E eis o que sei dos meus contatos com Vô Agripino: - Eufrásio foi somente um instrumento de nossa evolução – e disse mais: que eu nunca me iludisse com o seu comportamento e nem tampouco com a sua evolução.
                   Sim, tudo era compreensível, porque o homem não se evolui em tão pouco tempo.
                   - Oh! Meu Deus! Começo a compreender o que estamos passando.
                   Nisso chega Eufrásio.
                   - Pai João, vou-me embora, não estou suportando mais esta vida! Vou sair, vou procurar emprego onde chegar. Darei notícias e jamais irei me esquecer de todos aqui, e muito menos de vocês dois.
                   Olhando, Pai Zé Pedro, que espantado não dissera uma só palavra, perguntou: - Quando desejas partir?
                   - Agora (respondeu Eufrásio) e sem muitas despedidas. E foi embora, montado na mula do finado.
                   Pai João, Pai Zé Pedro e alguns Nagôs que já haviam se juntado ali, estavam perplexos. Ninguém, ninguém deu uma só palavra. Subiram até a aldeia sem comentários e com toda mágoa no coração se sentaram junto à fogueira. Jurema virando-se para Zé Pedro, disse:
                   - Tenho pena de Vosmecês, e assim dizendo foi incorporando.
                   - Salve Deus! (era Vô Agripino) Meus filhos! Eufrásio foi embora, cumpriu seu tempo com vocês, não se preocupem que ele não irá muito longe. Fez grandes dívidas nestes arredores. Pagou sua dívida com Janaína e vai se encontrar com sua família aí nas Abóboras. E vocês, João e Zé Pedro, se preparem que virá uma ordem para vocês partirem daqui.
                   - Nas Abóboras? Sua família aí tão pertinho? (perguntou Pai João).
                   - Sim! Porém, ele saiu daqui sem saber (continuou Vô Agripino) Sim! Vocês vão partir daqui, partir para bem longe. Jurema, Janaína, Iracema, Jandaia, Juremá, Janara, Iramar, Jazaíra e Jaiza precisam se casar. Esta aldeia já não tem mais energia para vocês.
                   - Sim! Energia Transcendental, Herança que se encaminha na Lei do Auxílio.
                   Pai Zé Pedro e alguns Nagôs estavam ainda decepcionados, mal ouviam o que o Vô dizia.
                   Terminou a sessão e todos tristes, foram dormir.
                   Sim, nesta época já viviam ali naquela Aldeia 108 personagens. Era uma família que com a saída de Eufrásio, ficou bem mais unida. Só Deus agora daria o destino daquela gente.
                   Em volta da fogueira todos “murchos”; o coração de Pai João doía... Reagindo, voltou-se para os demais dizendo:
                   - Meus filhos, o homem não vive com o coração dilacerado pela desilusão. Não fiquem assim compungidos pela falta de Eufrásio.
                   Alguns comentaram – Eufrásio era tão bom, nos dava tantos conselhos, nos orientava em tudo...
                   Pai João começou a pensar: Quando o homem se esquece das faltas do outro é porque está se evoluindo. Ali naquele caso, todos só lembravam de Eufrásio na sua boa fase. Sim, Iracema, a crioulinha mais indefesa, e a quem mais fez sofrer...
                   - Zé Pedro (disse Pai João) Estes são realmente os velhos Reis e Imperadores.
                   - Por quê João, afirmas com tanta euforia?
                   - Zé Pedro, o homem que viveu em encarnação superior, digo, de procedência refinada, não perde a confiança em si mesmo.  Sempre estão a lhe passar o Espírito de Justiça e não se envolvem em mesquinharias. Somos 108, sabe?
                   - Sim, foram todos Reis e Rainhas, e todos viverão muito tempo conosco.
                   - Deveras (disse Pai Zé Pedro) – Eles só se lembram de Eufrásio, de Eufrásio em suas boas ações e de seu martírio na cama.
                   Continuavam perto da fogueira. Jurema fazia previsões. Chegando a vez de Iracema ela disse:
                   - Iracema, você voltará para ser a esposa de Petrúcio. Sim, seguirá para muito longe. Iracema e Iramar atravessarão o Espaço para receber a missão e depois voltarão esposas do mesmo Imperador.
                   - Eu? (espantou-se Iracema), esposa do Imperador?
                   - Sim! (continuou Jurema) Cujo Imperador será Eufrásio, que neste instante já se prepara para partir no rumo de sua missão.
                   Deveras, foi horrível aquela noite. Frustramento, sonhos pesados, porém ninguém ousava dizer nada, até que Pai João quebrou o silêncio.
                   - Sim! (disse Jurema) Uma morrerá e Iramar se casará por último e, depois todos nós partiremos de lá para outro lugar aqui perto...
                   A vida continuava. Logo se acostumaram com a saída de Eufrásio. Reinava agora um suspense. Sempre sustos, reparações Doutrinárias, uma harmonia quase que de medo. Certo dia Pai João se juntou na fogueira e começou a falar:
                   - Vejam meus filhos, como a lei segura o homem. Vê-se assim, como o homem pode ser punido pelas próprias leis que estabelece, sem se desviar deles. São as leis feitas pelos homens, que punem. Os Poderes Superiores podem proteger o homem das forças negativas que causam doença e sofrimento, porém, o pedido de proteção, segurança contida de paz, harmonia do nosso todo, isso é possível somente na Lei do Auxílio. Fazendo a caridade é que abatemos na Lei do nosso carma. O sofrimento de hoje é a luz do amanhã. Individualizamos a vida e, no entanto, somos guiados por Deus. Há muitos séculos o homem tentou criar e fez a força cega em si mesma, dirigida pelo Chefe das Almas...
                   Pai Zé Pedro ouvia atento as palavras de Pai João, e remoia em seu canto a falta, a transformação de Eufrásio.
                   - João, o quê é Deus? Não é dado ao homem conhecer Deus, que por si mesmo deve compreender? Sabemos que um homem está com Deus pelo seu procedimento. Por que regride o homem? Eufrásio estava em Deus, como pode cair tão de repente?
                   - Sim Zé Pedro, cuidado com a tua forma de pensar, vancê é um Nego Velho pro chicote e não para julgar com tanta convicção.
                   Os dois começaram a rir e João disse com Amor:
                   - Sim Zé Pedro, ouça bem o que diz Vô Agripino: Deus é absolutamente Fé, é absolutamente Razão. E ser a Razão é ser a ciência. Eufrásio não estava em Deus, Deus tentava penetrar apenas em seu coração, como tocou ao vosso naquela noite.
                   - Como? (pergunta Zé Pedro).
                   - Assumindo com Eufrásio os seus desatinos! Afirmou Pai João.
                   - Então tudo foi perdido? (indagou Zé Pedro).
                   - Não Zé Pedro, nada se perdeu, muito pelo contrário, Eufrásio saiu para cumprir seu destino. Deus não lhe daria o perdão de suas faltas por aquele curto tempo em que esteve paralítico aqui na cabana. Espancou muitos homens, foi o pivô da noite trágica. Quantas mortes em seu nome? Tudo o que aconteceu foi à bem do seu Espírito, não se esqueça do que disse o Caboclo Pena Branca: Breve, muito breve, iremos nos encontrar. Salve Deus!
                   - João, na verdade o homem não tem capacidade de julgar o outro.
                   Os dois começaram a sorrir, achando graça daquelas coisas que falaram e que tanto lhes fizera bem. Tudo vinha de Vô Agripino a Pai João.
                   Felizes, felizes estavam agora. Recordavam de sua vida passada, o porquê daquela escravidão.
                   A felicidade porém durou pouco. Como por encanto um temporal, como um furacão, ameaçava aquela aldeia – o mar crescia, as árvores chegavam suas copas no chão. Pai Zé Pedro e Pai João juntavam a todos e em súplicas olhavam o céu. As palavras de Vô Agripino, eram agora o leme daquele povo: “CORAGEM! FIRMEZA! A FÉ, O AMOR, SÓ EM DEUS!...”.
                   Quando a voz do Índio Estrangeiro, como uma melodia de paz se fez ouvir: É A HORA DE POMPÉIA! Foi a Voz Direta.
                   Todos ouviam e viam seus Olhos Verdes incomparáveis, iluminando naquela escuridão. Logo todos estavam juntos.
                   Oh! Meu Deus! Em que Plano? Em que Dimensão? Foram todos ou ficou alguém, alguns daqueles pobres Missionários?
                   Meu filho Jaguar: Nós veremos na próxima semana um outro capítulo, porque Rafael, Jorge, Vildinha, Soares e Izaura precisam de mim, e eu, sua Mãe em Cristo, vou atendê-los.

                   Sua Mãe em Cristo.
Tia Neiva.

                   Vale do Amanhecer-DF, 16 de maio de 1980.

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